Do casamento de Maria Huber e do Dr. Francisco Reinisch nasce o herói de Schoenstatt Franz Reini  sch, foi o segundo filho de uma união com cinco filhos, dois meninos e três meninas, veio à luz em 01/02/1903, em Feldkirch

A vida de Reinisch foi sempre cheia de fatos curiosos e até profecias. Quando criança sua mãe fez questão de encostar a cabeça do menino no crânio de São Félix de Sigmaringa que fora decapitado por sua fé, assim como um dia viera a acontecer com Franz. Quando Franz ainda era criança, sua mãe narraria no dia da ordenação do filho – “Não tinha ainda meio aninho de vida. Estávamos na calçada, quando passou o santíssimo, eu o tirei do carrinho, o levantei e disse a Jesus, Querido Salvador, se queres este meu filho como padre, eu te ofereço de coração!” Dois dias depois dessa narrativa, celebrou uma missa em Innsbruck e nesse dia, repentinamente uma mulher aproximou-se e profetizou “Este morrerá mártir” como viria a acontecer anos depois.

Em sua juventude, Reinisch demonstra ser um homem vaidoso, exuberante e sociável, era um homem alto, bem apessoado, de boa aparência e falante, era sempre notado por onde passava, principalmente pelas mulheres. Mas ele, que tinha tudo para ter-se uma posição social invejável, viria a tomar rumos inesperados.

Durante um retiro de semanas em que foi convidado a participar, o homem que vinha da alegre balbúrdia do mundo universitário passou a sentir uma “presença” diferente em seu interior, foi um retiro de profunda experiência religiosa e que podemos considerar como um divisor de águas na vida de Francisco. 

Voltando a sua rotina, ele passa a notar o mundo com outros olhos,  aquele romantismo das paixões já não lhe encantava, pelo contrário, começa a notar a podridão do nosso mundo, a miséria moral e por conta disso lhe explode o desejo interior de conquistar almas para Cristo, e em 1923 toma a decisão de se tornar padre. Apesar de tomar uma firme decisão, Reinisch viria a ter suas crises, seu caminho ao sacerdócio foi árduo, foi sofrido e assediado pelas dúvidas esteve próximo de deixar o seminário, era difícil assumir um compromisso tão grande e que seria para vida toda, mas aos poucos Francisco vai recuperando sua serenidade e teve a certeza de que Deus o queria padre, chegando finalmente ao sacerdócio em 29/06/1928.

Mas foi só em 1933 que ele viria a conhecer o movimento de Schoenstatt, mesmo ano em que algo que seria fator crucial na sua vida acontecia, Hitler, líder do Partido Nazista, subia ao poder na Alemanha. Apesar de o Fuhrer ter suas atitudes contestáveis, era apoiado por boa parte da população, mas para o padre austríaco (Reinisch) ele era um usurpador da pátria, era o próprio anticristo em pessoa e o Pe. Franz não tinha a intenção de esconder seus pensamentos, até por ser um formador de opinião nos grupos do movimento, ele aproveitava suas conferências para falar abertamente do anticristo que via personificado em Hitler sem piedade. Mas quem garantiria que essa forma de falar do Fuhrer não fosse arriscada? Que não chegaria nos ouvidos da Gestapo? Pelo contrário, P. Reinisch tinha essa consciência de que poderia acontecer e de fato, meses depois, a Policia Secreta Nazista, viria a se mostrar muito bem informada do conteúdo de suas falas e resolveu silenciá-lo. A primeira cartada foi a proibição de pregar, fato este que afligiu muito a Francisco, pois assim sua atividade apostólica era comprometida. A segunda cartada foi a notificação recebida em março de 1941, devia preparar-se para a próxima convocação e em agosto a segunda notificação, quando recebia ordem de preparar-se a incorporação e então iniciava-se uma forte luta espiritual: Deveria ele conscientemente alistar-se e lutar a favor de Hitler? O que será que Hitler planejava em relação à Igreja? 

Daí se inicia uma luta enorme na sua consciência, pois a igreja não dizia que ele não poderia alistar-se e inclusive era comum ele ser questionado sobre sua posição sob o argumento de que uma autoridade é reconhecida por Deus, “Hitler era reconhecido por Deus”, assim como os primeiros cristãos reconheciam a Nero, portanto devia ele também reconhecer. 

Sob o pensamento de que poderia morrer como um oficial de Cristo e Maria, ele decide que não! Não irá prestar juramento! Nega a obediência a bandeira nazista, nega um regime de trapaças, mentira, violência e mortes. Reinisch tem a certeza de que através dessa morte, realiza um apostolado maior do que se alistando.

Após a decisão tomada, chega a hora das despedidas, Reinisch tinha consciência que sua desobediência lhe traria consequências fatais. Em 11 de abril, 4 meses antes de sua morte, faz sua última visita a Innsbruck, onde cresceu e seus pais ainda moravam, visita essa em que trazia notícia avassaladora, comunicaria a família sua própria morte. Com certeza este não foi um dos encontros mais felizes da família. No dia 14 de abril se despede com lágrimas incontroláveis e com lábios tremendo, pela última vez via seu lar, seus pais, mas devia seguir os desejos de Deus, despede-se dos pais e inicia sua caminhada.

Franz devia se apresentar 14 de abril na seção dos recrutas, mas propositalmente atrasaria em um dia, desde o primeiro momento ele deixava claro que sua intenção não era a de servir ao regime autoritário e assassino

Houveram tentativas de dissuadir ao Pe. Franz, tanto pelos superiores militares como também por seus superiores eclesiais, mas ele transparecia estar decidido, por nada deveria mudar sua decisão, por isso seu caso seria levado à corte militar para julgamento. No julgamento, Reinisch reafirma que não prestará juramento a bandeira nazista e por isso recebe a sentença: “Soldado Reinisch é condenado à morte por recusar prestar juramento à bandeira e favorecer a deserção militar”

Com a sentença definida, cabia esperar no corredor da morte, Reinisch mesmo transparecendo calma e serenidade sofria com os medos, inclusive o medo da morte, mas além dele, sofria com a incerteza se conseguiria ser forte para resistir até o fim, de falhar quando tivesse diante das autoridades, tinha medo dos guardas, de ser infiel nas últimas e também que de a MTA não aceitasse seu sacrifício. Também muito o afligia a dúvida se preferir a morte ao juramento estava realmente fundado na religião ou se era fruto do seu temperamento e seu orgulho, tanto que nunca descartou a possibilidade de que caso sentisse que a Mãe esperava outra coisa dele para melhor servir para a glória de Deus, retomasse o caminho de volta à vida. 

Mas até o fim, Franz Reinisch seguiu acreditando que a Mãe esperava de si o sacrifício, portanto, mesmo com os medos, foi firme até o fim na sua decisão e às 5 horas e 3 minutos da madrugada do dia 21 de agosto de 1942 sua cabeça rolou. Jorra seu jovem sangue, o mais belo símbolo e a mais bela dádiva de amor e fidelidade, pelo império mariano de Cristo Rei, por Schoenstatt e sua missão. Morre um mártir de sua consciência, por seu povo e sua Igreja.

Por Lucas Moraes

Fonte: Livro “O Sim e o Sangue” de Olivo Cesca

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