“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou”

Gênesis 1, 27


A notícia de mais uma morte de um homem negro após uma abordagem policial totalmente equivocada levou a uma série de manifestações, em diversas cidades dos Estados Unidos, exigindo justiça e respeito. Essas manifestações são frutos de muitos anos de uma repressão contra a população negra dos EUA.

Porém esse sentimento de opressão não se limita aos americanos. Aqui no Brasil não são poucos os casos de violência estatal contra a população afrodescendente. O caso João Pedro, de 14 anos, que morreu após sua casa ter sido alvo de diversos tiros durante uma operação policial, chocou o Brasil e mostrou uma realidade que muitas vezes preferimos ignorar: a de que a população negra sofre e muito no Brasil.

“E o que eu tenho a ver com isso?” Ao nos defrontarmos com essas situações podemos nos fazer essa pergunta, e realmente a resposta é de que nesses casos nós não pudemos fazer nada, não fomos nós que puxamos o gatilho que matou o garoto no Brasil ou não fomos nós que nos ajoelhamos no pescoço de George Floyd por quase 10 minutos até sua morte. Porém o sentimento que leva os policiais a terem essas atitudes passa por nós. “O racismo é um casamento com a morte” diz o filósofo Silvio Luiz de Almeida, presidente do instituto Luiz Gama.

Essa “ideia” de que existe a possibilidade de a vida de um ser humano valer menos do que a de outro é um convite a violência, e essa “ideia” infelizmente, por diversas vezes, está presente no nosso dia a dia, e é aqui que devemos agir. Essas ações passam pela compreensão de que toda vida importa, um racista não é diferente de uma pessoa que defende o aborto como forma de evitar vidas indesejáveis.

Quantas vezes vemos uma pessoa branca atravessar a rua quando vê uma outra pessoa negra a sua frente, ou mesmo quando um segurança desconfia mais de um cliente negro do que de um cliente branco, e para esse caso não vale a desculpa de que se faz isso por que a maioria dos casos de crimes são cometidos por negros. Se usássemos essa mesma lógica, nunca mais elegeríamos um governador branco para o estado do Rio de Janeiro, já que 100% de seus governadores presos por corrupção são brancos. Portanto, essa desconfiança a mais para com o negro é puro resultado da ideia de que ele não merece a mesma confiança do que você por conta da diferença na quantidade de melanina no corpo.

Quando assumimos que existe uma categoria de seres humanos que é inferior a categoria a qual eu faço parte, por consequência lógica, assumimos também que Deus criou seres humanos de maneira diferente, o que é uma ideia sem pé nem cabeça e mentirosa já que lemos no livro de gênesis de que Deus criou o homem a sua imagem, portanto não poderiam existir dois tipos de seres humanos.

“Agora começamos a entender! Entenderemos ainda melhor quando eu apontar que este espírito social só pode existir onde se combate energicamente o egoísmo, o amor-próprio, a busca do próprio proveito. Temos assim diante de nós um grande e vasto campo de ação social!” (grifo meu) diz o Padre Kentenich em conferência para os congregados em 1914.

E o que é o racismo se não uma forma de egoísmo, em que enxergamos apenas a cor do outro e aí decidimos se ele é digno de nossa consideração caso sua cor seja igual à minha.

Talvez o preconceito baseado na cor de pele do de outra pessoa não seja vencido e ultrapassado nos nossos tempos, talvez os nossos esforços para que todos sejam reconhecidos como homens dignos de respeito, não por sua etnia, mas sim pela dignidade inerente a todos os seres humanos, não sejam os mais eficientes e talvez não cheguem aos que mais precisam, nas periferias existenciais. Porém é inadmissível que se finja que esse problema não existe e seja varrido para debaixo do tapete, enquanto assistimos nossos irmãos sofrerem. Infelizmente nenhum grande santo deixou um manual de como resolver esse problema, porém também sei que nenhum deles se calaria caso presenciasse tamanha injustiça.

O racismo é uma mancha na história da humanidade, e nesse assunto não existe outra opção a não ser combater qualquer ideia de que alguém é inferior a outra pessoa. Nesse caso não existe meio termo, não é possível ser “Meio não racista” ou “Não racista de vez em quando”. Também é imprescindível que estejamos atentos às vítimas e sejamos sempre abertos a acolher aqueles que sofrem desse mal.

E assim, sendo firmes em nossos ideais de igualdade e acolhedores com aqueles que sofrem é que aos poucos vamos superar essa história vergonhosa, e ao final poderemos incluir na carta de São Paulo aos Gálatas: Não há judeu nem grego, branco nem negro, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus.

O texto expressa a opinião do autor e está sobre a responsabilidade do mesmo.

Pablo Garcia

Sobre o Autor

Juventude Masculina de Schoenstatt.