No Evangelho de hoje, nono domingo do Tempo Comum, os fariseus questionam Jesus, como sempre. Desta vez, o questionamento era se Ele respeitava ou não o dia de sábado. Os discípulos foram vistos arrancando espigas de trigo, o que era considerado trabalho de colheita. A resposta de Cristo foi direta: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado (Mc 2, 27) ”. Na tradição cristã, o domingo passou a cumprir com o papel do sábado, devido a Ressurreição de Jesus.

Mas o ponto onde quero chegar não é esse.

Na homilia de ontem, o Padre Clodoaldo trouxe à Assembleia presente na Capela Tabor uma reflexão interessante: No evangelho, os fariseus, de certa maneira, execravam o trabalho, como algo não digno de Deus.

No livro Santidade de Todos os Dias, o Padre Kentenich tece alguns comentários a respeito dessa visão negativa do trabalho:

“Já de início, muitos irão replicar: a vida que nossos primeiros pais levaram no paraíso não foi uma vida ociosa? Com certeza, eles não precisaram trabalhar, do contrário hoje não poderíamos falar da maldição do paraíso (…). Sem dúvida, o trabalho que efetuamos sob as consequências do pecado original supõe uma maldição (…). A maldição de Deus atingiu o homem e a criação. Somente à custa de muita fadiga e suor é que o homem consegue extrair da terra seus frutos (…). O trabalho em si mesmo nunca recebeu maldição. Foram malditos somente o homem e a terra. ”

A maldição de Deus para com Adão e Eva – “comerás o pão com o suor do teu rosto” – bem como a visão atual do trabalho, em piadas, por exemplo, é visível essa concepção negativa do trabalho como algo que se é obrigado a fazer apenas para não passar fome, especialmente quando nosso trabalho não é exatamente aquilo que nós sonhamos profissionalmente.

Nas circunstâncias atuais do trabalho, infelizmente, há muitíssimas pessoas que se veem reduzidas a essa atividade puramente mecânica, nas fábricas e escritórios. São poucos os que podem escolher livremente sua atividade profissional. Somente o santo vence os perigos que se relacionam com a mecanização do processo de trabalho (…). ‘Santos são mais necessários do que máquinas a vapor. Precisamos de máquinas, porém, o espírito deve dominá-las’”.

No meio católico, não raro somos levados a pensar da mesma forma que os fariseus. Não raro, separamos completamente as coisas do trabalho das coisas divinas. Abrindo o leque, temos a tendência maniqueísta de criar um abismo entre o mundo, profano, e Deus, divino.

No entanto, o Padre Kentenich vem ressaltar o papel do trabalho como algo que liga o homem ao Reino.

“Quão grande é, pois, a dignidade do trabalho! É uma atividade semelhante ao reconhecimento e ao amor dos bem-aventurados no céu. Mais ainda, nosso trabalho é, embora muito mais imperfeitamente e, não raro, de uma forma diversa, uma participação na atividade criadora e comunicadora de Deus. Como Criador, Deus exerce sua atividade em toda a parte, criando, conservando e governando o Universo. Ele cria e conserva também a vida divina na alma agraciada. E tudo Ele o faz por amor (…). Por isso, o trabalho encerra tanta felicidade e ventura, desconhecida àqueles que o consideram única ou simplesmente um meio de sustento (…). O trabalho dá saúde e vigor ao corpo e a alma, preserva de muitas tentações e pecados e nos facilita as relações com Deus. Desenvolve o cerne da personalidade, desperta e aprofunda uma sadia consciência de valor próprio”.

O trabalho santifica o homem diante de Deus. O próprio Movimento de Schoenstatt tem a visão de “ser sal e fermento no meio do mundo”. Acompanhar Cristo e cooperar com Ele na salvação humana, através dos meios profissionais, é uma das missões do Instituto dos Irmãos de Maria, em um exemplo mais específico. Se o trabalho fosse algo mau, a missão dos Irmãos – e de Schoenstatt, de uma forma geral – perderia o sentido.

Also, Kentenich?

É preciso atribuir o verdadeiro sentido ao trabalho e por meio dele despertar e desenvolver as potências criadoras e comunicativas do homem, mesmo quando o trabalho por sua natureza parecer árido e pouco atraente (…). Tomemos as circunstâncias econômicas desta época, assim como são, e ousemos a pequena experiência diária de extrair da dura rocha de um trabalho pouco agradável, a água cristalina e refrescante da vida, do amor e da alegria”.

Sobre o Autor

Líder de Ramo do Jumas Santa Maria (RS) e estudante de Engenharia de Computação na UFSM.