Eu sofro. Você sofre. Ele sofre.

O sofrimento é algo inerte a vida humana.

O melancólico é o sofredor por natureza. Ele volta e meia, em seu interior ou mesmo em conversas cotidianas, diz “ó céus, ó vida, se eu andar com os braços levantados, Deus me puxa.”

Você sofre. Mas, por quê?

As causas do sofrimento humano tiram o sono na Filosofia e na Teologia desde muito tempo. No livro Santidade de Todos os Dias, seguindo esse questionamento, o Padre Kentenich dedica uma pequena parte à interpretação do sofrimento humano. Ele, como todo homem, sofreu – e como.

Desde os tempos mais remotos, o homem atormentado pelo obscuro poder do sofrimento investigava a causa de suas dores. Alguns filósofos, pagãos, admitiam a existência de um princípio poderoso, quase onipotente, ao lado de Deus. A Sagrada Escritura, no entanto, desmente tal afirmação (…). Adão, que se contagiou pelo pecado da desobediência, transmitiu também a morte e os sofrimentos corporais a todo o gênero humano, e, além disso, deixou-nos como herança o próprio pecado.

O Pai Fundador faz uma referência ao pensamento gnóstico, que rondou o cristianismo no início de sua trajetória. Os sistemas gnósticos têm a visão de que o mundo é composto ou explicável através de duas entidades fundamentais, um Deus bom, criador das coisas espirituais, e um Deus mau, criador da matéria, com o sofrimento humano vindo deste. No entanto, as escrituras afirmam que o sofrimento é consequência dos erros humanos, do erro de Adão.

Pelo pecado original, todos sofremos.

“Ora, ser homem significa suportar sofrimento, e a arte de sofrer é sumamente rara e difícil (…)! Temos que admitir que, ao lado da oração e do trabalho, o sofrimento é parte essencial da tarefa cristã de nossa vida. A cruz e o cristianismo guardam relações muito íntimas (…). Por isso, o Senhor fala da cruz e do sofrimento com tanta naturalidade: ‘Se me perseguiram, também a vós hão de perseguir! O discípulo não é maior que seu mestre, nem o servo maior que o senhor. Basta ao discípulo ser tratado como seu mestre, e ao servo, como ao seu senhor (Mt 10, 24-25)‘. Cada cristão deve ser crucificado!

Sabemos que o pecado original nos trouxe até aqui. Sabemos que a culpa original nos é limpa pelo Batismo e pelo sacrifício de Cristo por nós. Mas não estamos livres de pecar.

Pelo contrário, o cristão é, acima de tudo, um pecador. Also, Kentenich?

“Qualquer cristão sabe desde a infância que a cruz e o sofrimento são consequências do pecado original (…). Suas consequências permanecem, manifestando-se com maior intensidade quanto maior for o número dos pecados pessoais que debilitam a natureza humana (…). [O cristão] Tanto pode pecar e já pecaram os povos cristãos, como também o cristão em particular.”

O ser humano tende ao erro. O cristão é ainda mais vulnerável, pelo compromisso de fé e com o Reino de Deus. Não raro vemos aqueles não-cristãos que apontam o dedo em nossa cara quando alguém que é cristão comete um erro notório. Assim como, conforme disse o Papa Francisco, “mais faz barulho uma árvore caindo do que uma floresta inteira crescendo”, o que causa alegria em quem vê um cristão fazendo burradas é o conforto sentido em acreditar que o ser humano não pode sair da lama, e quem tenta é ignorante ou hipócrita.

O que nos difere é que nós, como cristãos, estamos sempre buscando nos corrigir e levantar a cada tropeço dado, sempre andando e andando, ao contrário de nossos amigos enlameados. E esse caminho é pedregoso, totuoso, sofrido. Basta ver o que passam os cristãos do Oriente Médio.

A Igreja deve assemelhar-se a Cristo (…) que salvou o mundo por sua Paixão (…). A Igreja total, e cada membro separadamente, deve preparar-se para carregar cruzes extraordinariamente grandes. É este o tempo em que vivemos. Isto nos provam as terríveis perseguições que sofre a Igreja em inúmeros países.”

O cristão vê, no próprio sofrimento, os mistérios da alma e dos santos. É uma fonte de bênçãos para ele. Tempestades da alma nos tiram a paz. A vida cristã, ocasionalmente, possui temporadas no Getsêmani. Deus, em seu anseio para tornar o homem imagem e semelhança de seu Filho, não raras vezes permite essas provações, para que consigamos, através disso, chegarmos a um bem maior em nosso caminho a salvação.

“Quem procura santificar a vida diária poderia ser mestre da oração e modelo no cumprimento de seus deveres. Porém, se ao mesmo tempo, não for heroi no sofrimento, deixou incompleta uma parte essencial da obra de seu dia (…). Não somente haveremos de cumprir a vontade de Deus, mas também sofrê-la em nossa vida (…). Do contrário, se poderia falar de uma santidade domingueira ou dos dias de festa, mas não da verdadeira santidade na vida diária. Por isso, o cristão que santifica seu dia valoriza a arte de aprender a sofrer. ”

Sobre o Autor

Líder de Ramo do Jumas Santa Maria (RS) e estudante de Engenharia de Computação na UFSM.