Numa entrega um tanto ousada, o JUMAS do Regional Sudeste realizou a missão na fronteira entre o Brasil e a Bolívia durante os dias 7 à 14 de julho


São exatas vinte e cinco horas que separam a cidade de São Paulo de Porto Esperidião, um município do Mato Grosso que faz fronteira com a Bolívia. E esse foi um dos desafios que os jovens da Juventude Masculina de Schoenstatt realizaram para levar a Mãe de Deus até o seu destino.

O pré-missão

A ideia de missionar na fronteira foi apresentada pela primeira vez durante o Encontro de Líderes de 2019, mas já havia surgido há algum tempo. Durante seu tempo como seminarista, nosso assessor, padre Ailton Brito, participou de uma missão de rua com o pessoal da Missão Belém. Foi lá onde ele conheceu o padre Marcelo, o atual pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, lar da Missão Jesus na Fronteira (JEFRON). Foi através desse contato que surgiu o convite para participarmos da missão com eles.

A ida para a missão

Entrega foi com certeza a palavra que marcou tudo na missão. Seja no modo pessoal, nas renúncias familiares, escolares e do trabalho, ou seja como Jumas, vendendo rifas para arrecadar dinheiro, preparando material das oficinas. Mas o desânimo nunca foi sequer mencionado, nem mesmo quando o ônibus quebrou faltando três horas para chegarmos. Pelo contrário, os missionários tinham um semblante alegre, jogavam futebol e truco. A parada forçada ainda rendeu uma pré-missão na beira da estrada e as equipes agilizando seus trabalhos para não perder tempo.

Pelo fim da tarde, chegamos ao nosso primeiro destino: Porto Esperidião, onde fomos recebidos pelo padre Marcelo e os jovens paroquianos com muita alegria.

Já no dia seguinte, após uma missa bem cedinho, tivemos o anúncio das comunidades e o envio. Logo depois, um ônibus levou cada comunidade ao seu destino.

A missão

Foram ao todo cinco comunidades, três no Brasil e duas na Bolívia. Fomos todos muito bem acolhidos pela população local, e realizamos várias atividades ao longo da semana. Cada comunidade tinha em média de 7 a 8 missionários do Jumas e dois da Missão JEFRON.


Por se tratar de uma vivência extremamente pessoal e especial, cada comunidade deu o seu testemunho de como foi a sua semana

Comunidade de Ascensión de La Frontera

A comunidade era uma cidadezinha na Bolívia com cerca de 3000 moradores. Muitos católicos, organizados em 5 bairros. A maioria entendia também o português, mas tivemos que conversar muito em espanhol.

Visitamos mais de 200 casas nos quatro dias de missão. Povo muito acolhedor de fé muito simples. Gostavam muito de que a casa fosse abençoada e tinham um respeito e carinho enormes pela imagens da Mãe Peregrina. A cada dia fazíamos as refeições em um bairro e os moradores partilhavam o alimento, cada um trazendo um prato.

Algumas crianças, jovens e um senhor da comunidade guiavam os missionários pelas ruas, levando onde deveriam ir, gerando assim novos missionários da comunidade.

Comunidade Vila Nova

A comunidade Vila Nova é uma aldeia indígena chiquitana, onde vivem atualmente, mais ou menos, doze famílias. A pequena população desse lugar mantém viva as tradições da sua cultura e as transmite às novas gerações. O ambiente da aldeia está marcado pela forte presença de crianças e jovens, inclusive isso nos surpreendeu e nos alegrou muito quando chegamos. Apesar de o idioma oficial ser o português, na escola se ensina a língua materna chiquitana e ainda se escuta uma palavra ou outra nesse idioma no dia a dia do povoado.

Neste contexto chegamos sete missionários para compartilhar a vida e juntos proclamar a nossa fé em Jesus Cristo. Éramos cinco da juventude Masculina de Schoenstatt e dois do grupo de jovens JEFRON da paróquia nossa senhora de Fátima de Porto Esperidião. Fomos recebidos na segunda feira (08/07) pelas crianças da aldeia, acompanhado por um delicioso almoço preparado pela Dona Helena (líder espiritual da cidade). Nessa tarde tivemos nossa primeira atividade com os moradores da aldeia, juntos recebemos a imagem da Mãe Rainha que foi trazida pelo Pe. Ailton, peregrinamos com ela rezando o terço e celebramos a missa.

Nos dias seguintes fizemos as primeiras visitas e fomos pouco a pouco conhecendo a riqueza da cultura chiquitana. Em cada visita partilhamos a vida, conversamos e rezamos pedindo a benção de Deus para cada casa. Diferente de outras missões, íamos todos juntos às casas e permanecíamos bastante tempo com cada família.  Durante a tarde fazíamos as oficinas com as crianças e jovens e logo após jogávamos futebol: um dia com os meninos e outro dia com as meninas, de acordo com a organização que eles já tinham estabelecido. Ao anoitecer nos reuníamos no quintal da dona Helena como comunidade e ali tínhamos um momento de oração, na maioria dos dias celebramos a liturgia da palavra. Um momento muito especial que vivemos foi na quinta-feira à noite, quando a comunidade Vila Nova fez uma linda apresentação cultural, com danças típicas e pinturas no corpo.

Comunidade Fazendinha

Fomos recebidos pelo pajé da aldeia, o senhor Lourenço Rupê, e ficamos hospedados na sua casa, mais precisamente, no quarto de seus dois netos, que eram missionários do JEFRON. Eram poucas casas na comunidade, mas praticamente todos os moradores se reuniram com a gente durante as refeições, que eram muito coletivas. Na terça de manhã, fomos até a escola do povo chiquitano para passar o dia com os alunos, que eram crianças de variadas idades e de várias aldeias que ficavam por perto. A ida até a escola foi um pedido das crianças, já que a maioria delas era da aldeia Acorizal, e nós só iríamos para lá na sexta-feira. Após o almoço e retorno para casa, aproveitamos o período da tarde para fazer uma ermida para a Mãe de Deus, que deixamos de presente na igreja deles, a Comunidade São João Batista.

Na quarta, o padre Ailton e o padre Marcelo celebraram a missa na parte da manhã e depois partilharam de um delicioso almoço conosco. De noite, fomos até a escola de novo para o encerramento do bimestre, com uma festa regada de comidas típicas e também a apresentação que as crianças prepararam para nós, o Curussé. Com as roupas e pinturas corporais típicas, apresentaram também algumas canções no idioma materno deles, até mesmo algumas que eles adaptaram do português, como a clássica “O sapo não lava o pé”. Durante a quinta, fomos missionar nas casas que ficam um pouco mais longe, e na parte da noite fizemos a tradicional pintura corporal em nossos braços. Na sexta, após uma linda despedida, fomos até a aldeia Acorizal, onde fomos recebidos na escola. Visitamos as casas próximas, com ajuda das crianças e jovens da aldeia. Após o almoço, fomos até as casas mais distantes, sempre acompanhados dos moradores que iam conosco. À noite, uma missa de despedida presidida pelo padre Ailton.

O que mais ficou marcado para nós, missionários, foi o modo como todos interagiram conosco, tanto as crianças durante as brincadeiras, quanto os adultos nas nossas conversas e momentos de espiritualidade. Nas orações, nos chamou atenção como eles sempre pediam mais pelos outros do que para si mesmos, pediam sempre pela saúde de algum familiar ou amigo, por aqueles que não tinham muito e pediam também pela natureza.

Comunidade San Antonio de La Sierra

Essa era a segunda comunidade boliviana, junto com Ascénsion. Foi uma semana bem rica, onde a comunidade inclusive renunciou a sua própria língua, o castelhano, para se comunicar com nós, missionários, falando em português na maior parte do tempo. Pudemos conhecer um pouco da cultura, da culinária, entramos em contato com a fé. Uma característica marcante era a organização deles em comunidade, uma disciplina e fraternidade imensa, essa que também leva uma humildade imensa, onde o espírito de partilha é essencial, todos estão sempre dividindo com o próximo. Nessa comunidade também tinha um Calvário, e a experiência de subir com eles, entender o porquê desse Calvário foi uma lição muito importante para nossas vidas.

Comunidade São Fabiano

As características mais marcantes da comunidade são realmente muito fortes. O espírito de comunhão presente na comunidade era imprescindível. Também era um lugar de muita fé, onde os moradores associam a fé a tudo presente na vida, seja rezando ou no cotidiano. Era uma comunidade muito bem estruturada, harmônica e respeitosa, principalmente por parte das crianças, que demonstram que os valores vão sendo muito bem passados de geração em geração. Todos os dias passávamos nas casas, partilhando da vida da comunidade, seja jogando bola, realizando oficinas com os moradores, nas missas e demais orações, inclusive em passeios, onde visitamos muitos pontos referenciais da cultura deles, com direito a banho de cachoeira em um dos dias.

Na reta final da missão, com todos os missionários já reunidos novamente, a Comunidade San Antonio de La Sierra nos surpreendeu com uma apresentação realizada pelos jovens e um delicioso churrasco de uma de suas vacas, em forma de gratidão pela semana de missão. Logo após o jantar, tivemos um breve momento de descanso e nos preparamos para subir o Calvário, onde ficamos até o amanhecer e celebramos a Santa Missa. Tivemos ainda um café da manhã antes de nos despedirmos da comunidade.

De volta à Porto Esperidião e com energias recarregadas, tivemos outra surpresa: uma festa julina para fechar a Missão Fronteira com chave de ouro, com direito a quadrilha, comidas típicas e até gincana para os missionários que terminou com mergulho na piscina. Já no domingo, após a missa de despedida e o café da manhã, demos adeus à cidade de Porto Esperidião e aos nossos amigos da Missão JEFRON, com direito a convite para vir missionar em São Paulo conosco também.

Texto por Gustavo Vitalino
Fotos por JUMAS Sudeste/Missão JEFRON

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