No mesmo momento em que as lideranças do JUMAS Brasil rezavam um terço em frente ao Congresso Nacional e liam uma carta de compromisso, escrita por eles e dirigida aos nossos parlamentares, acontecia mais uma edição da chamada “Parada Gay” em São Paulo. Nosso Fundador, o Pe. José Kentenich, nos ensina a permanecer sempre “com a mão no pulso do tempo e o ouvido no coração de Deus”. Estamos obrigados, então, a olhar os acontecimentos do nosso tempo com os “óculos” de Deus, com os valores e critérios que aprendemos dEle.

 

No país democrático que vivemos – graças a Deus! – já estamos acostumados às legítimas manifestações de grupos minoritários, que se sentem injustamente descriminados por uma considerável parcela da sociedade e, por isso, entendemos suas reivindicações de respeito, dignidade e igualdade. Contudo nos entristecemos e nos sentimos ofendidos quando a defesa de seus direitos fere os igualmente legítimos direitos de outros. Mais que liberdade de expressão, em alguns casos presenciamos uma agressão às crenças religiosas alheias, e isso precisa ser condenado. “Se queremos respeito, devemos respeitar”, recordou Dom Odilo Scherer em nota de repúdio ao acontecido. Por isso não há como ficar indiferentes quando presenciamos nossos símbolos cristãos sendo tratados com escárnio, obscenidade e falta de respeito. Se durante nossas procissões religiosas tratássemos de forma semelhante os símbolos do “movimento gay”, este se sentiria igualmente ofendido.

 

Uma pessoa postou no site da Folha de São Paulo: “Um absurdo este pouco caso com a fé de outras pessoas. Sou um ateu confesso e aceito as preferências sexuais de todos, mas isto já não é a liberdade de expressão que tem que ser respeitada. Isto é liberdade de agressão às crenças de outras pessoas. Tem que ser reprimida de alguma forma.”

 

Enquanto o JUMAS Brasil se comprometia a “rezar e batalhar por uma sociedade fundamentada na dignidade da pessoa humana e construída com os pilares da caridade, verdade e justiça”, o Brasil via desfilar pela Avenida Paulista cenas que deixavam surpresos até os mais engajados defensores da “cultura gay” e da “ideologia de gênero”, temas que, inclusive, tinham sido abordados – com profundos sentimentos de caridade, verdade e justiça – no VIII Fórum do JUMAS Brasil recém-concluído em Brasília.

 

Como educador da nossa juventude, ficar calado seria omitir-me. Por isso atrevo-me a formular uma breve reflexão, que não tem intenção de ser “postura oficial” de nenhum grupo que represento, nem a pretensão de ser uma palavra definitiva sobre o assunto. Como fizemos no Fórum, inspirados pelo espírito de liberdade, que nosso Pai e Fundador sempre fomentou em nós, cada um tem o direito e o dever de dissentir e de buscar honestamente formar sua própria opinião. Busco, porém, inspirar-me nos mesmos valores cristãos da CARIDADE, VERDADE e JUSTIÇA destacados pelo Fórum Nacional. Diante dos fatos ocorridos na Avenida Paulista domingo passado:

A CARIDADE cristã me inspira a:

  • Amar e perdoar cada manifestante, por piores que sejam os atos cometidos por eles (e para nós, cristãos, eles foram graves), pois todos são filhos de Deus e muito amados por Ele. Jesus amou os pecadores e na cruz perdoou seus assassinos, e com isso me ensinou a fazer o mesmo.
  • Não fomentar o ódio, nem a violência, nem o fundamentalismo religioso, que só geram mais divisão e preconceito, pois Jesus me ensinou a “dar a outra face” quando me ofendessem e perseguissem por causa do Seu Nome.
  • Ser solidário com o sofrimento alheio, seja ele qual for. Em concreto, sei que muitas pessoas em condição homossexual sofrem profundamente por causa da discriminação e injustiça, direta ou indireta, da qual são vítimas. Em alguns casos essa discriminação é fomentada, inclusive, por grupos religiosos que “esquecem” que a caridade é a maior das virtudes anunciada por Jesus Cristo.
  • Condenar a homofobia e todas as formas de discriminação em razão de raça, credo ou condição sexual, pois Deus não só ama a todos, mas tem predileção pelos pobres, perseguidos e injustiçados.
  • Ser solidário, por outro lado, com as famílias que procuram educar seus filhos nos valores ensinados por Deus, mas são obrigadas – graças à mídia e aos estímulos, diretos ou indiretos do Estado – a presenciar e aceitar como “normais” manifestações que agridem e ferem os sentimentos de muitos grupos religiosos, e que fogem aos princípios básicos de uma adequada educação humana e religiosa.

Por outro lado, a VERDADE cristã me inspira a:

  • Reconhecer, proclamar e defender o ideal da família, criada por Deus como a célula básica da sociedade, formada por homem e mulher, lugar privilegiado para a complementação entre os sexos e para a educação dos filhos.
  • Reconhecer, proclamar e defender o ideal da sexualidade humana como forma sagrada de expressão do amor, ideal gravado de tal forma na natureza humana que só na união entre duas pessoas de sexo oposto é possível gerar uma nova vida humana, maior dom que Deus pode conceder aos seres humanos, fazendo-o partícipe do seu ato criador.
  • Respeitar, por outro lado, os casos em que este ideal não é ou não pode ser atingido, voluntária ou involuntariamente, e reconhecer que muitas vezes alguns cristãos são omissos na caridade devida a essas pessoas e acentuam a discriminação sofrida por elas.
  • Não permitir, porém, que se caia em relativismos que pretendem afirmar que “é tudo igual” ou “dá no mesmo”, pois Jesus Cristo é “o caminho, a verdade e a vida”, e aquilo que fere os planos de Deus tem consequências graves para a realização plena da pessoa e da sociedade humana.
  • Expressar assertivamente a verdade cristã e propagá-la no debate político, mostrando seu valor e razoabilidade para toda a sociedade, expressando assim a opinião de uma parcela considerável da população que acredita nestes valores como os ideais para a realização humana e a convivência social.
  • Condenar e denunciar atos sacrílegos, como os cometidos contra Deus e os santos na Parada Gay de São Paulo, e repará-los com minha oração e protesto ativo (se for com a de muitos, melhor ainda), exigindo respeito à liberdade religiosa, que – por sinal – está garantida pela Constituição Federal do Estado brasileiro.
  • Denunciar a “ideologia de gênero” e qualquer tentativa de impor como verdade a ser aceita por toda a sociedade o que não é verdadeiro: a opção sexual não é uma construção social; está gravada na natureza humana e precisa ser respeitada como tal.

E ainda, a JUSTIÇA cristã me inspira a:

  • Tratar com amor, tolerância e de forma respeitosa as pessoas que exercem sua sexualidade de uma forma diferente daquela ensinada por Deus, sem cair em qualquer tipo de discriminação, burla ou maus tratos.
  • Exigir o respeito e promover a defesa da família segundo os padrões naturais, condenando as tentativas de equiparar todos os tipos de família. Embora todos eles devam ser respeitados e seus direitos civis possam ser assegurados.
  • Impedir que as gerações futuras, os “nossos filhos”, sejam obrigados a receber uma educação escolar que não condiga com os padrões queridos pelos seus pais e, pior ainda, com os ensinamentos de Deus.
  • Condenar veementemente a liberdade de expressão que desrespeita a liberdade religiosa, apelando à constituição brasileira, pois nosso Estado é laico, não ateu. O Estado defende tanto a liberdade de expressão como a liberdade religiosa, e uma não pode acontecer em detrimento da outra. O Estado laico respeita e estimula a liberdade religiosa, defendendo a sua expressão e considerando crime todo ataque direto que fira essa legítima liberdade.
  • Denunciar o uso de dinheiro público para financiar atividades que realizem atos criminosos, ferindo a dignidade e liberdade religiosa das pessoas e desrespeitem a Constituição Federal.

 

Espero ter dado alguns critérios para enfrentarmos melhor estes e outros acontecimentos. Nossa indignação é justa e precisa ser manifestada. Estamos convencidos da verdade anunciada por Cristo e sua Igreja e não calaremos nossa voz para proclamá-la em todas as circunstâncias, pois numa sociedade democrática temos o direito a que nossa voz seja escutada com respeito e sem discriminação. Tudo isso deve acontecer, porém, dentro dos critérios da maior das virtudes cristãs: a caridade, pois amor e misericórdia são a marca inconfundível do cristão, mesmo que nos crucifiquem por causa disso!

Pe. Alexandre Awi Mello

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